Em meio à enxurrada de produções recentes que exploram o futuro, a vigilância e a sociedade conectada, uma série dos anos 2000 parece ter passado despercebida — mas ela previu com precisão inquietante o mundo em que vivemos hoje. Estamos falando de “Person of Interest”, uma produção que pode ter sido ofuscada pelo brilho de séries mais populares, mas que merece ser redescoberta.
Person of Interest: muito além de uma série policial
Criada por Jonathan Nolan e produzida por J.J. Abrams, Person of Interest foi exibida entre 2011 e 2016, mas suas raízes conceituais remontam a discussões tecnológicas da década anterior. A premissa gira em torno de uma inteligência artificial criada para prever crimes antes que eles aconteçam — uma ideia que parecia ficção científica, mas hoje se aproxima da realidade.
Com vigilância em tempo real, reconhecimento facial, coleta de dados e machine learning, a série antecipou muitos temas que atualmente são debatidos em escala global, como a privacidade digital, o controle das big techs e os limites éticos da inteligência artificial.
A antecipação do presente: dados, algoritmos e controle
Na época, a noção de uma “máquina” capaz de prever eventos com base em dados comportamentais parecia algo distante. Hoje, vivemos cercados por algoritmos que analisam nossos passos: desde os vídeos que assistimos até os produtos que compramos. O conceito de “prever o futuro” por meio do comportamento online deixou de ser ficção e se tornou a base de modelos de negócios gigantes como Google, Meta e Amazon.
Além disso, questões como vigilância em massa e invasão de privacidade estão cada vez mais presentes na vida moderna. Câmeras inteligentes, coleta de dados por aplicativos e inteligência artificial sendo usada por governos para rastrear movimentos são práticas comuns — exatamente como retratado na série.
Um alerta disfarçado de entretenimento
O grande mérito de Person of Interest é conseguir misturar ação, drama e questionamentos éticos profundos em uma narrativa envolvente. Cada episódio traz um “número” — alguém que está prestes a cometer ou sofrer um crime — e os protagonistas tentam entender quem é a vítima e quem é o agressor.
Essa dinâmica não apenas gera suspense, como também levanta debates relevantes: até que ponto podemos abrir mão da liberdade em nome da segurança? Quem controla a máquina? E se ela tomar decisões por conta própria?
Por que a série foi esquecida?
Apesar de sua qualidade técnica e roteiros inteligentes, Person of Interest nunca teve o reconhecimento de outras séries contemporâneas como Black Mirror ou Westworld. Talvez por não estar em uma plataforma de streaming desde o início, ou por sua proposta parecer complexa demais para o público médio da época, ela acabou caindo no esquecimento.
No entanto, à medida que avançamos tecnologicamente, mais pessoas têm redescoberto a série e percebido o quanto ela era visionária. Muitos críticos e fãs hoje consideram a produção uma das mais subestimadas da década passada.
Por que vale a pena assistir hoje?
Assistir Person of Interest em 2025 é como olhar no espelho. A série parece escrita para os dias atuais, mesmo tendo estreado mais de uma década atrás. Em tempos de inteligência artificial generativa, deepfakes, algoritmos onipresentes e crescente preocupação com privacidade, a série oferece uma reflexão necessária — e assustadora — sobre o mundo que estamos construindo.